POR UMA UNIVERSIDADE EM ALERTA CONTRA A DESIGUALDADE

Entendemos que a atual situação de emergência sanitária obriga que se tomem medidas por vezes drásticas para garantir a segurança comunitária, tanto dentro como para além da própria comunidade universitária. Este necessário exercício de prudência coletiva nunca deve ser impedimento, porém, para tomar em consideração os efeitos que algumas destas medidas possam representar para as/os/es estudantes mais vulneráveis e precarizadas/os/es.

Preocupa-nos muito, em especial, os efeitos que a quebra de redes de apoio familiar motivadas pela transfobia, a homofobia e a serofobia tem para a população travesti, as pessoas trans, sapatonas, bichas e pessoas soropositivas, tanto como a maior exposição a situações de pobreza e exclusão social da população negra e indígena. Todos estes fatores, isolados ou em relação, podem conduzir a situações de alto risco no atual contexto.

Pensando nestas vulnerabilidades queremos chamar a atenção, em particular, ao fato de que diferentes universidades tenham tomado a decisão de fechar os restaurantes universitários (RUs). Como é sabido, os RUs constituem a principal fonte de alimentação diária e, por vezes, a única assegurada, para uma parte importante das/os/es estudantes. Por esse motivo, o seu fechamento pode pôr em causa o estado de saúde de, ao menos, parte da comunidade universitária de uma forma equivalente à que representa a pandemia. Esta situação se vê especialmente agravada pelo bloqueio dos transportes, que faz com que as/os/es estudantes careçam de alternativas nas redes de apoio das suas localidades de origem.

Neste caso, como em relação ao conjunto das medidas adotadas, consideramos que a mitigação dos riscos sanitários deve se articular com a garantia das condições mínimas de subsistência para toda a comunidade universitária. Por estes motivos, as/os/es abaixo assinantes exortamos às universidades a fazer todos os esforços institucionais possíveis para garantir o acesso à alimentação para as/os/es estudantes que assim o requeiram. Com esse fim, sugerimos que se garanta, no mínimo, a distribuição de marmita quando o acesso aos RUs não seja possível sem comprometer a segurança de trabalhadoras/es e estudantes.

Vale salientar, por último, que o acesso à alimentação básica deve ser garantido com independência de que as/os/es estudantes se encaixem ou não em critérios tais como ser beneficiários de subsídios, moradoras/es de casas estudantis ou quaisquer outros. Só dessa forma poderão ser garantidas as condições mínimas de subsistência para quaisquer membros da comunidade universitária nas rapidamente variáveis condições da atual situação de emergência.


Apoiam

Gustavo Augusto Assis Faustino (Estudante, UFG)

Alfrancio Dias (Professor, UFS)

Berenice Bento (Professora, UNB)

Carlos Henrique de Lucas (Professor, UFOB)

Danillo da Conceição Pereira Silva (IFAL/UFS)

Denise Diele Alves de Sousa (Estudante, UFOB)

Fernando Pocahy (Professor, UERJ)

Igor Monteiro (Estudante, UFMG)

João Manuel de Oliveira (Professor, UFSC)

João Paulo Sales Macedo (Professor, UFDPAR)

José Sena (PIPGLA/UFRJ)

Karla Galvão Adrião (Professora, UFPE)

Katia Maheirie (Professora, UFSC)

Katya Luciane de Oliveira (UEL)

Leandro Colling (Professor, UFBA)

Luiz Paulo Moita Lopes (Professor, UFRJ)

Maria Juracy Toneli (Professora, UFSC)

Marco Aurelio Máximo Prado (Professor, UFMG)

Pablo Pérez Navarro (Professor, UFMG)

Sara Wagner York (MSc - Diretoria de Minorias da Associação de Pós Graduandos, UERJ)