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fortalecer os programas de fomento e reativar os equipamentos culturais de arte contemporânea de Pernambuco

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Esta petição foi criada por roberto M. e pode não representar a visão da comunidade da Avaaz.
roberto M.
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Gov. de Pernambuco Eduardo Campos e Prefeito de Recife Geraldo Júlio
Chamamos a atenção para o gritante descompasso entre o reconhecimento que a produção em artes visuais feita em Pernambuco (e especialmente no Recife) vem recebendo em outros estados e no exterior desde finais da década de 1990 e a capacidade institucional de exibir, colecionar e estudar essa produção. Se, em princípios da década de 2000, houve uma sinalização de que esse descompasso seria em algum tempo diminuído, os anos recentes foram de patente retrocesso.

É necessário que haja dos gestores municipais e estadual um compromisso profissional e administrativo para implementar uma política cultural fortalecendo os programas de fomento à produção e formação artística e reativar os espaços de exibição para o escoamento da potente produção artística de Pernambuco e voltarmos a ser um pólo das artes visuais no Brasil.

SEGUE A CARTA:


Recife, novembro de 2013.

Carta do Fórum Independente de Artes Visuais do Recife

Prezados Governador Eduardo Campos e Prefeito Geraldo Júlio

É com grande expectativa que nós, membros do Fórum independente de artes visuais do Recife, nos dirigimos aos senhores para expressar um breve diagnóstico do segmento, bem como nossas apreensões e demandas. Cumpre destacar que este fórum é suprapartidário e engloba agentes culturais de várias linhas de pensamento e de várias formas de ação no campo das artes visuais.

Chamamos a atenção para o gritante descompasso entre o reconhecimento que a produção em artes visuais feita em Pernambuco (e especialmente no Recife) vem recebendo em outros estados e no exterior desde finais da década de 1990 e a capacidade institucional de exibir, colecionar e estudar essa produção. Se, em princípios da década de 2000, houve uma sinalização de que esse descompasso seria em algum tempo diminuído, os anos recentes foram de patente retrocesso.

Se tal regressão é já inaceitável, passa a ser chocante quando se considera que o agravamento da incapacidade de os poderes municipal e estadual estarem à altura, em suas ações institucionais, da reconhecida qualidade da produção local, ocorra em momento de grande dinamismo econômico por que passa a região há já quase uma década. A despeito do vigoroso crescimento de arrecadação do Estado e do município, aquelas ações tornaram-se, nesse período, ainda mais tímidas e desarticuladas, no limiar de se tornarem simplesmente desimportantes. Em particular, parece-nos evidente a pouca (ou quase nenhuma) atenção concedida às instituições voltadas às artes visuais, bem como ao aprimoramento dos instrumentos de fomento à produção artística.

Não fosse por outro motivo para um efetivo comprometimento do setor público com as artes visuais (e há vários, que serão oportunamente trazidos à discussão em novos comunicados), a economia das artes é das mais importantes e dinâmicas no mundo, e poderia, nesse momento de acelerado crescimento da economia local, participar ativamente na diversificação dos seus resultados, bem como na multiplicação de seus ganhos, associando produção simbólica à geração de emprego e renda. Não faltam exemplos bem sucedidos dessa proximidade promovida por agentes públicos, quer no plano internacional (em um exemplo extremo, basta lembrar que a Tate Modern, em Londres, atrai mais de 5 milhões de visitantes ao ano), quer no território nacional (a Pinacoteca de São Paulo atrai hoje centenas de milhares de visitantes para ver suas exposições, tendo se tornado, em poucos anos, um marco institucional na capital paulistana e no país).

Não se quer aqui comparar o poderio simbólico e patrimonial de Londres ou de São Paulo com os de nosso Estado e capital. Não nos apetece o desmedido ou a adjetivação vazia, mas tão somente atestar a inexistência de políticas e projetos públicos locais que, em sua natureza, ainda que não em dimensão, poderiam se espelhar naqueles e em tantos outros projetos bem-sucedidos de políticas públicas que atam, em círculo virtuoso, produção artística e crescimento econômico.

O fato é que não há justificativa plausível para que Pernambuco e sua capital, com expressiva e reconhecida importância nas artes visuais brasileiras moderna e contemporânea, não possuam instituições fortes e à altura dessa relevância. Instituições que, devidamente profissionalizadas e equipadas, são essenciais para a formação, pesquisa, conservação, divulgação e renovação da produção artística que se faz aqui, promovendo ainda, como parte indissociável de seu trabalho, o intercâmbio com produções vindas de outros cantos. Instituições que, operando como devido, fariam de nossos museus os equipamentos educativos que de fato deveriam ser, e que infelizmente nem de longe são.

Em verdade, a situação de nossos principais museus de arte moderna e contemporânea é próxima do desastre, tanto em termos físicos quanto em termos gerenciais. A começar por não possuírem quadros profissionais estáveis. Sequer têm curadores. E se alguns poucos deles estão minimamente equipados para a conservação de seus acervos, o amadorismo nos procedimentos de guarda é gritante (e não por culpa de seus esforçados mas insuficientemente treinados funcionários), pondo em situação de risco valiosas coleções, bem como a integridade física de seu (pouco) público. Neles também quase não existem ações propositivas de programas de exposições, cursos, publicações, pesquisas, etc., sendo extremamente dependentes de projetos feitos por terceiros. Os museus de arte locais funcionam, no mais das vezes, como “caixas” que apenas recebem o que outros concebem, sem criar uma identidade simbólica a partir de projetos que sejam seus. Sem falar na ausência de equipamentos básicos de segurança em várias dessas instituições, deixando-as expostas a roubos e à possibilidade de incêndios, acentuada por redes elétricas sabidamente deficientes ou francamente condenadas. A lista de deficiências seria grande, se quiséssemos aqui continuar, indo da inexistência de uma política de aquisições à improvisação de programas educativos. Por agora, basta o esboço da gravidade do quadro.

É preciso mencionar ainda, porém, uma das principais razões para a precarização da gestão dos museus de arte locais. Museus são equipamentos que, por natureza, promovem ações que fogem à lógica de política de eventos como a consagrada, com maior ou menor ênfase, no Estado e no município nas duas últimas décadas (salvo poucas exceções), a qual privilegia os chamados grandes “ciclos” de festejos (carnaval, são João, natal) em detrimento de ações permanentes e formadoras com menor visibilidade na mídia. Talvez por tal motivo, seus orçamentos anuais são, na maior parte das vezes, menores do que uma única atração nacional contratada para qualquer um dos três ciclos mencionados acima (não há exagero nessa comparação). Essa é uma distorção inaceitável, que denuncia uma concepção produtivista e puramente midiática do que seria cultura e arte. A longo prazo, este tipo de política cultural não forma audiência crítica e esvazia a potência transformadora que a arte embute.

O que espanta é, diante de situação tão sabida quanto grave, não conseguirmos vislumbrar, nas atitudes e nos discursos até então tornados públicos pelas administrações do Estado e da capital, qualquer mudança efetiva que nos faça crer que uma mudança relevante neste cenário esteja em pauta no presente momento. Assistimos, com pesar e apreensão, ao progressivo declínio ou desmonte de nossas instituições artísticas, ao ponto de elas terem se tornado francamente desimportantes, quase invisíveis na malha cultural do Estado e da cidade.

A inépcia das políticas públicas em artes visuais do Estado e do município é também percebida para além do descaso com suas instituições museológicas. Um exemplo, entre tantos, foi o pífio retorno, em 2013, do SPA - Semana de Artes Visuais, após seu cancelamento em 2012 e uma década de funcionamento. Além de ser um índice de um processo mais amplo de desarticulação das ações institucionais relacionadas às artes visuais no Governo de Pernambuco e na Prefeitura do Recife, essa insistência em um evento esvaziado demonstra a falta de imaginação, ou mero desinteresse, na formulação de políticas públicas relevantes para o setor.

O caminho para reverter ou mesmo remediar a situação aqui mencionada não é, em definitivo, o retorno do SPA ou a eventos similares, mesmo com melhores condições orçamentárias, posto que, a despeito de suas qualidades (principalmente as demonstradas no momento em que foi criado, pondo artistas de diferentes regiões em contato em um momento em que redes de comunicação virtual ainda não estavam fortificadas, como ocorre hoje), o SPA não institui nada na cidade. Ou, ainda pior, escamoteia as reais e gritantes deficiências do setor. Embora tenham importância pontual, festivais, semanadas, viradas culturais e outros eventos similares não são instrumentos capazes de confrontar aquelas deficiências. Criam a ilusão passageira de estar-se na linha de frente da discussão da produção em artes visuais sem de fato estar-se. Nem em termos de produção, nem em termos de exibição, nem em termos de reflexão. O que se precisa é de ações que instituam e adensem, de modo continuado, um ambiente propício à criação, à formação, ao debate crítico e à divulgação da produção em arte visuais, daqui e da feita em outros lugares.

É nesse contexto que decidimos contribuir para que essa lamentável realidade possa ser revertida, fazendo com que nossas instituições estejam à altura da qualidade da produção artística feita em Pernambuco e, em particular, no Recife. Contribuição que é feita, em primeiro lugar, através de pressão, legítima e democrática, para que as autoridades eleitas façam jus ao compromisso que assumiram com as populações deste Estado e desta cidade; e façam jus, principalmente, à história remota e recente de uma produção artística que, ao longo de décadas, tem recebido a aprovação e o respeito crítico dentro e fora da região. Pressão que será, a partir de agora, feita com ainda mais vigor e frequência, pois não podemos abrir mão da responsabilidade que nos cabe, como artistas, curadores, críticos, gestores, produtores e tantas outras filiações profissionais que nos unem em torno da criação artística, frente à inexistência de uma política pública clara e articulada para as artes visuais de Pernambuco e do Recife. Pressão, contudo, que não exclui o debate e o diálogo. Muito pelo contrário, pressão que demanda, em primeiro lugar, que os governantes finalmente exponham francamente os seus planos para as artes visuais do Estado e do município e os debatam com os muitos interessados e implicados. O mutismo, nessa situação já grave, é não menos que inaceitável.

Atenciosamente,

Fórum independente de artes visuais do Recife


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