Senhor Ministro de Estado da Cultura do Brasil, Juca Ferreira: Mantenha e amplie o Projeto Bandas de Música na reestruturação da FUNARTE

PELA MANUTENÇÃO E AMPLIAÇÃO DO PROJETO BANDAS DE MÚSICA DA FUNARTE

Excelentíssimo Ministro de Estado da Cultura, Sr. Juca Ferreira, e prezado Presidente da FUNARTE, Sr. Francisco Bosco. Ao tomar conhecimento da reformulação da FUNARTE, anunciada em 27 de fevereiro do corrente, o Núcleo de Bandas da Escola de Música da UFBA sentiu a necessidade de tornar público, com apoio de seus pares, a importância de se manter e, mesmo, de ampliar o PROJETO BANDAS DE MÚSICA desta Fundação. As bandas de música, em seus 200 anos de história, constituíram uma tradição cultural nacional e exprimem parte da identidade musical brasileira por meio de uma expressão artística própria. Em sua história encontra a criação de gêneros musicais nacionais como o frevo, o dobrado e o maxixe. Seus inumeráveis acervos de partituras, espalhados pelo país e necessitando de orientação e apoio, narram parte da história da música no Brasil, além das histórias nacional, estaduais e municipais. Em seu repertório estão grandiosas, sublimes e, mesmo, humildes homenagens a pessoas, acontecimentos, datas e lugares, compostas por seus mestres-compositores ao longo destes anos nos mais longínquos povoados. São mais de 5.000 bandas, em um país de 5.561 municípios, distribuídas por todas as regiões e presentes em todos os Estados. São muitos os estudiosos que concordam com Vicente Salles ao afirmar que elas têm sido o conservatório do povo brasileiro. Seus mestres, muitas vezes cidadãos e cidadãs de classes populares que trabalham mais pela paixão do que por capital financeiro, têm contribuído com a educação de algumas centenas de milhares de jovens ao longo de nossa história. Também têm sido responsáveis pela primeira formação musical de muitos músicos que atuam, hoje, em bandas de música profissionais, orquestras sinfônicas, universidades, conservatórios, estúdios de gravação, orquestras de frevo, big bands , grupos de música popular etc. Muitos deles não seriam profissionais hoje, se não fosse a gratuidade dos cursos e instrumentos oferecidos pela banda de música de suas localidades e a abnegação destes mestres, muitas vezes não reconhecidos com o devido valor na sociedade. Estes dados comprovam o poder de pedagogias musicais próprias, construídas ao longo de décadas de trabalho em suas “escolinhas”. As liras abrilhantam coretos, festas civis e cívicas, procissões, desfiles, jogos esportivos, teatros, carnaval, batismos e aniversários, assim como aliviam as dores em funerais e em homenagens a antigos finados. Por muitas décadas, diversas comunidades só tinham música ao vivo por meio da banda de música. Atualmente, temos mais de 100 corporações centenárias em atividade – verdadeiras heroínas que conseguiram sobreviver em meio a tantas crises econômicas em seu percurso. A maioria das bandas está aprendendo a trabalhar dentro das atuais políticas de cultura. Contudo, dependem ainda de políticas culturais especiais. O PROJETO BANDAS DE MÚSICA da FUNARTE fará 40 anos em 2016 e se tornou parte da própria tradição de bandas do país. Ele se tornou referência para outras ações de apoio às bandas. Seu processo de cadastramento de bandas tem sido essencial para a organização e pesquisas desta manifestação musical. Seu processo de doação de instrumentos musicais, agora por meio de edital, e orientação administrativa tem garantido tanto a manutenção como a expansão destes grupos. Os Painéis Funarte de Bandas de Música promovem intercâmbio e formação atualizada aos instrumentistas, mestres e luthiers por profissionais altamente capacitados. Sua importância se destaca também ao considerarmos que são raros os cursos oficiais de música no país que contemplam a formação do mestre de banda. Esta tradição musical, com identidade musical própria, não seria tão forte se não fosse seus conhecimentos singulares e seus repertórios sui generis . O PROJETO BANDAS tem tal consciência e, por isso, publica materiais sobre os conhecimentos da área e, principalmente, resgata, edita, disponibiliza e distribui obras do repertório, assim como estimula a criação de novas composições. Ele ainda não consegue dar conta de tantas necessidades que tamanha quantidade de bandas apresenta. Mas sua ausência abriria uma grande lacuna. Mantê-lo é reconhecer as contribuições culturais, sociais, educacionais e históricas desta prática musical. Ampliá-lo é reconhecer os valores e significados dos fazeres e conhecimentos desta tradição para o bem estar da sociedade atual e futura. É investir em seu maior sustentáculo: o ser humano em suas dimensões mais elevadas. É contemplar as futuras gerações com um legado brasileiro maior que nós mesmos, construído e deixado por nossos antepassados, e que temos o privilégio de desfrutar em nosso tempo.