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Carta Aberta Tudo Sobre Mulheres 2018 ao Ministro da Cultura, Pres. Ancine e Comitê Gestor do FSA
Danielle B.
começou essa petição para
Ministro da Cultura, Presidente da Ancine, Comitê Gestor do FSA
No
ultimo feriado, a Chapada dos Guimarães no Mato Grosso, foi palco de um
encontro que por todos os aspectos teve um intuito de união e presença
feminina, não apenas por conta dos filmes exibidos na
tela central na praça de Chapada, onde foram exibidos 32
curtas, 21 deles dirigidos por mulheres de todo o Brasil, mas através de
rodas de conversa, oficina de roteiro e uma convivência intensa que fizeram
com que novas ideias, parcerias e consciência se estabelecessem.
E foi
justamente em uma dessas conversas, em especifico sobre Protagonismo Feminino,
com a presença de Debora Ivanov (Diretora da Agência Nacional de Cinema),
Cynthia Falcão (Diretora de Programação e Produção da EPC/TVPE), Sara Silveira
(Produtora da Dezenove Filmes), Maria Ceiça (Atriz e Produtora),
Julia Katharine (realizadora e atriz trans) e Vera Zaverucha (especialista
no mercado audiovisual, escritora do livro "Desvendando a Ancine"),
que o grupo ali presente decidiu por redigir uma "Carta Aberta" direcionada
a Ancine e a todo o mercado audiovisual, para registrar a conversa sobre aquele
momento entre filmes e falas, a reflexão sobre o reconhecimento, a
identificação, o incentivo e a noção de o quanto a união feminina é importante
para que se ocupe espaços e neles se permaneça.
Carta
aberta
Após
oito anos de hiato, o
Festival Tudo Sobre Mulheres
retomou suas
atividades, promovendo a mesa
Protagonismo Feminino no Audiovisual,
realizada no dia 8 de setembro de 2018, em Chapada dos Guimarães (MT). Nela
estiveram presentes profissionais mulheres de diversas áreas do audiovisual e
juntas produzimos esta carta aberta, propondo políticas e contrapondo-nos
publicamente às ações implementadas recentemente, as quais contribuem para a
manutenção de um sistema excludente, que não representa a diversidade cultural
, ambiental, econômica e ecológica do Brasil continental e que não leva em
consideração a maioria de sua população, seja indígena, negra, mestiça, além
das mulheres trans e travestis.
Observamos
o seguinte:
1 -
Sobre o Sistema de pontuação do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA).
O atual
sistema de pontuação exclui as iniciativas de produção cinematográfica destas
comunidades e coletivos de cinema já que estabelece critérios que
privilegiam empresas e profissionais já estabelecidos na indústria e com alto
desempenho comercial em salas de exibição, ou mesmo participantes de festivais
que estas mesmas comunidades não têm acesso.
Desta
forma, as atividades de produtoras iniciantes, mesmo com obras produzidas em
regime de co-produção, são excluídas. Não levando em consideração a trajetória
de curtametragistas e o potencial artístico e inovador dessas obras,
nunca teremos chances de alcançar a pontuação necessária.
Este
sistema desconsidera os dados recentes publicados pela área técnica da
Ancine, que evidenciam a presença majoritária de homens brancos na
produção audiovisual, e a marginalização flagrante de mulheres. Além de pontuar
diretores já falecidos, e privilegiar produtoras concentradas no eixo RJ/SP
evidencia uma política que elitiza, segrega e não contribui para o surgimento,
descoberta e amadurecimento de novas realizadoras, nem para a democratização
dos recursos públicos. Como exemplo, observamos, analisamos e discutimos o
edital Fluxo Contínuo de Cinema, que publicou recentemente a pontuação das
produtoras registradas na Ancine, aptas para captar recursos do FSA. No
próprio edital de concurso para produção de longas, onde pareceu terem sido
utilizados estes critérios, já percebemos claramente as exclusões.
2 -
Sobre a necessidade de Políticas Afirmativas
Com a
implementação de cotas em todos os editais do FSA, inclusive no edital de fluxo
contínuo para produção de cinema, onde privilegia-se a quantidade de obras
lançadas, e o desempenho comercial dessas obras, entendemos que as políticas
afirmativas ainda não são suficientes ou mesmo capazes de diminuir as
assimetrias existentes. Tendo em vista a comprovada desigualdade de gênero, cor
e etnia dentro do setor audiovisual, ressaltada pelos dados publicados pela
própria Ancine, constitui-se um edital antidemocrático que não representa os
anseios crescentes desses setores da sociedade civil.
Propomos
a revisão da metodologia de atribuição de pontuação, e a implementação de um
sistema de cotas que considere o desempenho pregresso de produtores iniciantes,
como expressão de sua região, onde se acrescenta o potencial da própria
linguagem cinematográfica. Desse modo, não se restringindo apenas à trajetória
comercial dos filmes, mas também, considerando a contabilização de plateia em
diversas plataformas, tais como: internet e redes sociais, cineclubes,
festivais, etc.
3-
Sobre a implementação de Políticas Inclusivas e Formativas
Que
considerem a representatividade feminina, com a participação efetiva de
mulheres no comitê gestor e no comitê de investimentos do FSA, assim como nas
comissões de seleção de todos os editais com recursos públicos em que haja
presença de pessoas do setor audiovisual.
Propomos
desta forma a implementação de ações formativas que valorizem a capacitação de
mulheres em åreas técnicas do audiovisual como cargos de autoria, direção,
direção de fotografia, técnica de som, montagem e gestão.
4 -
Sobre o mercado cinematográfico no país
Foram
apresentados alguns dados resultantes do Levantamento da Agência Nacional de
Cinema- ANCINE tendo como base os 142 longas-metragens brasileiros lançados
comercialmente em salas de exibição no ano de 2016. Segundo o qual, são
dos homens brancos a direção de 75,4% dos longas. As mulheres brancas assinam a
direção de 19,7% dos filmes, enquanto apenas 2,1% foram dirigidos por homens
negros. Nenhum filme em 2016 foi dirigido ou roteirizado por uma mulher negra.
Diante
do exposto, requeremos imediata revisão nos critérios de pontuação e seleção,
tendo por princípio normativo a equidade de gênero, étnico-racial e regional.
Tal manifestação pauta-se nas lutas históricas protagonizadas pelas mulheres em
sua diversidade e manifestamente publicizadas nos diferentes contextos sociais
e políticos - nacional e internacional.
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