SEOPS, IBRAM-DF, Administração de Brasília:
ARTE NÃO É CRIME !! MÚSICA NÃO É POLUIÇÃO!
Pela urgência em manter as atividades musicais do Balaio Café e as atividades
culturais da Casa.
Mesmo com a licença de funcionamento que permite atividades musicais no local,
para música ao vivo e/ou mecânica (alvará de funcionamento), o Balaio teve
arbitrariamente e incisivas vezes, órgãos do poder público atuando pela
extinção da cultura e da música no local.
Sabemos que a garantia dos Direitos Culturais está prevista na Constituição
Federal, Declaração Universal dos Direitos Humanos e até nas diretrizes do
Poder Executivo em âmbito Federal e Distrital. O direito às liberdades, ao ir e
vir, à cultura, diversão e lazer são conquistas cidadãs inalienáveis. E
inclusive o direito ao trabalho.
Ocorre novamente em Brasília uma estranha perseguição aos bares e à vida
cultural urbana e noturna. Esta petição é a favor das atividades do Balaio
Café, respeito a frequentadoras e frequentadores, trabalhadoras e trabalhadores
e fornecedoras e fornecedores. Respeito ao território que já virou patrimônio
cultural do DF e tesouro intangível de nossa sociedade. Patrimônio econômico,
social e político, também.
Exigimos garantia do funcionamento dessa Casa de Cultura: atividades
cineclubistas, a capoeira de angola, o samba de raiz, as reuniões e oficinas de
movimentos sociais e populares. As intervenções artísticas e mostras de artes
visuais, os saraus e a poesia.
Nos espanta que a música tenha sido sacrificada pelos valores de uma ditadura
moralista que isola e teima em silenciar as existências livres, criativas e
solidárias na capital.
Em 9 de janeiro de 2014, às 16h, um aparato gigante de agentes da secretaria de
segurança pública e do Instituto Brasília de Meio Ambiente (IBRAM) invadiram o
local, fotografaram as instalações e colaboradoras/es e decretaram interdição
de qualquer tipo de emissão sonora e multa de R$ 5 mil. Alegando poluição
sonora, cuja aferição é questionável, assim como a absurda lei do silêncio que
vigora no DF, que causou a articulação da classe artstica e proprietárias e
proprietários de estabelecimentoa para a criação do movimento "Quem
Desligou o Som?” (https://www.facebook.com/quemdesligouosom).
Em 31 de março de 2014, a gestora da Casa foi a uma audiência na instância
criminal da Justiça do DF responder à acusação do crime de perturbação da ordem.
Na ocasião, a autora da ação, moradora de quadra vizinha ao Café, alegou que:
1) haveria música de “macumba” num dia em que o bar enche de preto;
2) não teria onde estacionar (a rua do Balaio tem várias lojas e
estabelecimentos comerciais de diversos segmentos e horários de funcionamento);
3) não queria ver relações homoafetivas próximas à sua residência;
4) existiriam mulheres usando shorts;
5) houve a festa do 8 de março, Dia Internacional da Mulher;
6) os frequentadores seriam de um nicho de gente que, por circularem próximos à
residência dela, desvalorizariam o imóvel onde ela mora;
7) ela iria acabar com “a raça” da gestora do Balaio.
O resultado foi que tivemos que assinar um “acordo”
imposto pelo poder judiciário e a acusadora à acusada, no qual a música, a
criatividade e o fazer artístico foram ANIQUILADOS, criminalizaram seu trabalho
(e de seus funcionárias/os) e lhe aplicaram condições que induzem à violência
patrimonial. Tudo isso a serviço dos valores implícitos no pleito da “vítima”
(acima citados).
Numa decisão bastante questionável, na qual se confunde a esfera privada com a
pública, se desrespeita todo o processo de aquisição do alvará de funcionamento
e a própria licença da Casa. Em busca de equilíbrio e tranquilidade para
continuar sua missão, o Balaio Café se comprometeu a só fazer música mediante
isolamento acústico. E fazer música na parte interna da Casa.
O Balaio Café é um território de liberdades, amor e alegria no Distrito
Federal. Localizado no centro da capital do maior país da América Latina, há 8
anos, seu funcionamento é de extrema importância para a vida cultural desta
geração.
Os bares são aparatos culturais fluidos, são as esquinas de Brasília. É na mesa
de bar que construímos e socializamos idéias, políticas, paixões, composições...
a vida cultural genuína sem burocracias, cerceamentos, ingerências e
intermediários. Atacar os bares é atacar o imaginário de uma cidade e de seus
habitantes.
No Balaio esta força amplifica e além de ser um bar é uma Casa de Cultura. Onde
se apoia, articula e fomenta muitas linguagens criativas e artísticas. Nos
espanta e assusta, mas principalmente indigna que esses direitos básicos sejam
violados, alegando-se poluição sonora. No domingo 20.04.2014, a arbitrariedade
do poder publico chegou ao extremo de dar voz de prisão a trabalhadoras da casa
e violentar trabalhadores da música que se apresentavam por volta das 20h.
O Balaio é misto de cafeteria, bar e restaurante e tem programação cultural
DIÁRIA de 3a a domingo. E muito orgulhosamente de música, que
engloba diversos estilos, desde o samba de raiz até as novas vertentes da
música. Além de sua importância para o cenário musical brasiliense, o Balaio
Café também é um local para o encontro e o fomento ativista e militante do
Distrito Federal.
O impedimento de atividades musicais do Balaio tem um tom persecutório, por ser
uma casa que sempre apoiou, protegeu e instigou a diversidade. Os danos
incalculáveis à classe artística e ao poder popular não podem ficar impunes.
Convidamos a compor uma força coletiva que lute por uma cidade mais criativa,
colaborativa e humana.
Os males do uso da força são bem significativos. O silenciamento e o isolamento
geram danos irreversíveis à saúde psíquica, mental e social de uma geração.
Precisamos resistir ou seremos silenciadas/os à força pelos poderes públicos.
Pedimos sensibilidade, diálogo, compreensão e compromisso político de gestores
do Instituto Brasília de Meio Ambiente (IBRAM-DF) e da Secretaria de Segurança
Pública.
Em denúncia e solicitação de atenção e atuação à grave situação de perseguição
aos bares e à vida noturna na capital, encaminharemos também esta petição à:
Secretaria de Cultura, Secretaria de Micro e Pequenas Empresas, Secretaria de
Direitos Humanos, Secretaria de Trabalho, Ministério da Cultura, Secretaria de
Direitos Humanos da Presidência da República, Secretaria da Promoção da
Igualdade Racial, Comissão de Cultura da Câmara dos Deputados, Comissões de
Direitos Humanos do Congresso e organismos internacionais correlatos.