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Pela Identidade Histórica da Escola de Artes e Arquitetura

Pela Identidade Histórica da Escola de Artes e Arquitetura

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António F.
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Magnífica Reitora Professora Olga Izilda Ronchi
A comunidade acadêmica da ainda atual Escola de Artes e Arquitetura - EAA , da Pontifícia Universidade Católica de Goiás – PUC Goiás se manifesta por meio deste abaixo assinado para demonstrar seu constrangimento ,
sua surpresa e sua absoluta insatisfação pela decisão intempestiva (na última semana do semestre) e unilateral – perdemos, com isso, a oportunidade da comunidade universitária ajudar a construir uma reestruturação assumida coletivamente – de não só encerrar a história  da Escola , Departamento , Escola , com  62 anos de existência ininterrupta como, também, de locar os Cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Design na agora chamada Escola Politécnica fazendo desaparecer do “radar” desta Instituição o compromisso firmado desde 1959 ao agregar não só a “nossa” Escola Goiana de Belas Artes - EGBA , assim como outras, para poder tornar-se uma Universidade. Os dois depoimentos agregados a este abaixo assinado são do Diretor da Escola
de Belas Artes
, em 1968/1969, Professor e Artista Plástico José Amaury Menezes e do Coordenador da elaboração do currículo inicial e do início da implantação do Curso de Arquitetura e Urbanismo , Professor
e Arquiteto Elder Rocha Lima (autor do projeto de arquitetura da Biblioteca da Universidade Católica de Goiás - UCG, hoje sede da Reitoria da PUC). Tal avaliação e reação começa a se estender “extra muros” da Instituição que tem sido admirada e referenciada por mais de 3 mil egressos dos dois cursos.

Linha do tempo e considerações

Funda-se em 19 52Escola Goiana de Belas Artes  agregando os artistas das Artes Visuais do estado de Goiás e, em especial, da Goiânia ainda novíssima capital do Estado, a Goiânia “de” Attílio Correa Lima, cidade planejada e “dona” de um dos maiores acervos de Art Déco do Brasil;

Em outubro de 19 59 , funda-se, a partir da mantenedora, Sociedade Goiana de Cultura - SGC , a Universidade de Goiás , chancelada pela Arquidiocese de Goiânia, primeiro centro Universitário do Centro Oeste, congregando diversas unidades de ensino superior, entre elas a Escola Goiana de Belas Artes que passou a ser Escola de Belas Artes - EBA da Universidade de Goiás;

Cerca de um ano depois, aberta a Universidade Federal de Goiás - UFG, a Universidade de Goiás muda seu nome para Universidade Católica de Goiás - UCG ;

Durante a ditadura civil-militar, no final dos anos 1960, início dos 70, o MEC decide, devido às circunstâncias políticas, pela implementação de uma reforma universitária que obriga todas as Universidades, públicas e privadas, a se estruturarem em Departamentos; a UCG, administrada a pedido do Arcebispo, desde o início, pela congregação dos jesuítas, numa atitude pragmática e que se percebeu depois, salutar, muda o nome das Escolas para Departamentos mantendo sua estrutura administrativa-acadêmica sem deixar dividir o corpo docente em “guetos”, como foi feito, principalmente, nas Federais; assim, troca-se apenas o nome para Departamento de Artes e Arquitetura , lembrando que a inserção da palavra Artes era, conscientemente, um compromisso do corpo docente, encampado pela Reitoria da época, na expectativa de, futuramente, abrirem-se novos cursos na área de artes, como assim foi o curso de Design ;

Em 1979 o curso de Arquitetura e Urbanismo implanta uma nova proposta curricular, coordenada pelo Professor Edgar Albuquerque Graeff, com novos conteúdos e novas metodologias. Esta proposta foi acolhida pelo programa Novas Metodologias da Secretaria de Ensino Superior - SESu do MEC e teve
repercussão nacional. Com esse destaque o Departamento de Artes e Arquitetura organizou e sediou o Encontro Nacional de Ensino de Arquitetura , em outubro de 1981 – o primeiro depois de 15 anos de interregno por causa da ditadura.

Em 2013/2014 a PUC Goiás passa por uma reestruturação e transforma o nosso Departamento em Escola de Artes e Arquitetura e, embora não houvesse nenhuma demanda por isso, achou-se bem apropriado: como se dizia, voltamos a ser uma ESCOLA ;

Análise e propositura

Agora, em junho de 2021, na última semana do semestre letivo, num esforço indescritível, depois de encerrar mais um semestre letivo em regime acadêmico remoto por conta da COVID 19, tivemos a surpresa e simultaneamente a indignação estampada na cara. A sequência histórica fica truncada. Pela primeira vez quebra-se a corrente, a coerência. Desmerece-se a casa onde sempre esteve o curso de Arquitetura e Urbanismo e, agora, desde a virada do século, acompanhado pelo seu coirmão, o curso de Design. Por um passe de mágica, passaremos a ser cursos de tecnologia. Entendemos que a Instituição deve fazer frente a tempos de “vacas magras” mas não, necessariamente,
destruindo coerências e consistências construídas, a duras penas, durante 53
anos de pertença orgulhosa a esta Instituição.

O que diriam Luiz Curado (fundador da EGBA), Frei
Confaloni
, Gustav Ritter , Jorge Felix de Sousa , Cleber Gouveia , DJ Oliveira , Roberto Benedeti , Edgar Albuquerque GraeffJoão Filgueiras Lima e tantos outros que deram seu esforço e dedicação para garantir como herança um “DNA” específico, o do fazer artístico, da interpretação dos desejos e necessidades sociais e da realização do habitat humano. Seja arquitetura da casa, o design de seus ambientes interiores, da mobília, do objeto utilitário, seja a arquitetura do palácio, da escola e seus arredores, seja da fábrica, da igreja, do hospital, seja da rodoviária ou do aeroporto. Enfim, seja o Urbanismo, a Arquitetura na cidade, seja o Design, a paisagem urbana e o paisagismo nas diversas escalas e ainda... o que haverá de vir a ser. Não é toa que o CNPq nos define como pertencentes à área das ciências humanas e sociais aplicadas. Sem dúvida nenhuma - antes, agora e depois - nos consideramos artistas e profissionais da síntese.

Assim, com o devido respeito à PUC Goiás, e sem interferir na nova estrutura definida por esta Instituição mas com a certeza de nossa presença, SOLICITA-SE que a nova Escola, para que seja nossa também e possa manter visível toda a sua história que é muito maior que o resumo acima feito, através do seu nome, receba uma denominação mais abrangente, ou seja, ESCOLA de TECNOLOGIAS, ARTES e ARQUITETURA , não necessariamente nesta ordem.

A seguir apresentamos importantes depoimentos:

De fundadores do Curso de Arquitetura e Urbanismo , o artista plástico José Amaury de Menezes , Diretor da EBA (em 1968/69) e o arquiteto Elder Rocha Lima , Coordenador da proposta inicial de currículo e sua implantação (em 1967/68):



DEPOIMENTO


Eu, em outubro de 1959, na qualidade de aluno da Escola Goiana de Belas Artes, fui testemunha e fotografei a solenidade do ato de incorporação da EGBA à Universidade Católica de Goiás, com a presença do Arcebispo Metropolitano, Dom Fernando Gomes dos Santos, além dos professores Luiz Augusto do Carmo Curado, Frei Nazareno Confaloni, Gustav Hennig Ritter, entre outros.

Tal adesão tornava-se imperiosa em função de uma exigência do Ministério da Educação que, para formação de uma universidade era necessário um conjunto de escolas ou faculdades com diversidades de cursos que englobassem as atividades de ciências humanas, técnicas e artes, dessa forma a Escola de Belas Artes foi a tábua de salvação na competição com um grupo que atuava para a formação da Universidade Federal de Goiás. É importante salientar que, se a UFG fosse criada antes da UCG, esta estaria inviabilizada, por isso a histórica disputa.



Na atual proposta de reforma da PUC Goiás até a palavra ARTE  foi eliminada, fato que tornará improvável qualquer futura atividade artística dentro da Universidade.

José Amaury de Menezes
Artista plástico e ex-Diretor da Escola de Belas Artes da UCG



DEPOIMENTO

A Arquitetura é uma atividade profissional profundamente ligada às artes plásticas. O Projeto de Arquitetura, seja ele de que natureza for, é sempre
concebido com intenção primeira de se criar um artefato artístico. Não podemos
descuidar também dos aspectos tecnológicos para que ele se concretize e se
materialize, dentro de um quadro de expressão artística sempre.

Se olharmos para a história da arte, veremos, nitidamente, esse viés da
preponderância artística no fazer arquitetônico, não podendo assim nomear a
Arquitetura em um instrumento meramente tecnológico. Nunca foi um curso
meramente tecnológico ao longo da História. Merecendo incorrer em grave erro
pedagógico, portanto o nome de Escola de Tecnologia, Artes e Arquitetura seria
o mais adequado.

Elder Rocha Lima
Arquiteto e professor (Comissão de proposição/inplantação do currículo,1968)



De artistas que “habitavam” a Escola naquela época -- Ana Maria Pacheco e Siron Franco   -- e são hoje consagrados no Brasil e no exterior:


DEPOIMENTO


A minha ligação com a Universidade de Goiás, depois Universidade Católica de
Goiás e hoje Pontifícia Universidade Católica de Goiás é muito antiga. Fui
aluna na Escola de Belas Artes. Mais tarde tornei-me professora na mesma
instituição. No decorrer dos anos, houve várias transformações na
infraestrutura da Escola de Belas Artes. Mas nenhuma foi tão importante quanto
a criação do Curso de Arquitetura e Urbanismo. No processo, a Escola de Artes
foi absorvida e integrada na nova ordem, criando assim uma oportunidade
inusitada de formalizar o que sempre faz parte da prática em Arquitetura, o
componente de Arte Visual. Coube aos professores da extinta Escola de Artes, a responsabilidade de iniciar e instruir os alunos nos dois primeiros anos do
curso em matérias como desenho de observação, modelo vivo e construções de objetos para melhor percepção entre forma e espaço. Além desta prática foi
criado o debate sobre os trabalhos realizados durante um período de duas ou
três semanas. Esta nova aplicação didática criou o que sempre se almeja na
prática educacional: independência no pensar, imaginação e discernimento.
Recentemente recebi um pedido para dar o meu parecer sobre drásticas mudanças na infraestrutura dos cursos da Universidade. Um dos problemas sérios em culturas emergentes, que é o caso do Brasil, é a constante corrida para não perder de vista as constantes inovações tecnológicas sem contar o avançocientífico. Há sempre o perigo, como diz o ditado inglês “throw the baby with the bath water”.

Vamos esperar que a solicitação do nome “ Escola de Tecnologias, Artes e Arquitetura “ não fique só no nome, que a prática do curso de Arquitetura e Urbanismo fique assegurada. Acredito que seja necessário honrar a memória dos professores que criaram a primeira Escola de Artes em Goiânia. A Escola ocupava algumas salas do museu Zoroastro Artiaga, na Praça Cívica. E foi lá que nasceu a “Alma Mater” da Escola de Artes e Arquitetura.
Eis os nomes: Henrique Peclat, pintor; Frei Nazareno Confaloni, pintor; Edmeia
Jordão, designer; Gustav Ritter, escultor; Maria do Carmo Castro, professora de
escultura e depois Diretora; Jorge Félix de Sousa, arquiteto; Luiz Curado,
gravador, fundador da escola e Diretor. Mais tarde vieram outros mas os
mencionados a cima foram os pioneiros.


Ana Maria Pacheco
Escultora, Londres, julho, 2021



DEPOIMENTO


Foi muito importante pra mim porque eu era muito garoto e fui aceito como
ouvinte (na Escola de Belas Artes da UCG) e ali tive oportunidade de conhecer a Sáida, o Amaury, o DJ Oliveira, que foi um querido amigo, e um professor
ótimo... todo o mundo, Frei Confaloni também, embora não tenha chegado a
estudar com o Frei porque em seguida eu viajava muito... mas a Escola foi fundamental... reuniu um grupo de artistas muito importantes e era um ambiente muito solidário, uma efervescência cultural... o Oliveira, de manhã, reunia todo o mundo pra ir pintar a periferia de Goiânia... enfim, eu tenho muitas lembranças, Amaury, a Ana Maria Pacheco também; então, foram grandes amigos que eu fiz ali, e ali aprendi muito! Um grande abraço!

Siron Franco (transcrito de áudio)
Artista plástico, Goiânia



De ex-Diretores e Diretor da Escola, Departamento, Escola:



DEPOIMENTO


Com 15/16 anos tinha simpatia pela engenharia mecânica, queria projetar
brinquedos, brinquedos de montar, o Meccano , uma espécie de um Lego
de hoje Mas entre os 16 e 17 anos, tendo ido a Portugal passar os 3 meses de
férias com meus avós, tios e primos – com a experiência da visita inesquecível
ao conjunto do Mosteiro da Batalha, perto de Leiria, com seu claustro, igreja
de 3 naves e, mais impressionante ainda, a Sala do Capítulo, um salão quadrado com 19 metros de lado -- e tendo escolhido uma disciplina optativa de história da arte, apaixonei-me pelas catedrais góticas. Que beleza! A técnica requintada das alvenarias de pedra, das abóbodas, das nervuras aceitando bem as compressões das cargas e delicadamente descendo-as até ao topo ou ao meio das colunas. E os arcos botantes... sobre as coberturas das naves laterais, de pé direito menor, para impedir que as cargas "abrissem" as laterais e tudo desmoronasse. E ainda, os maciços contrafortes, do lado de fora, para não incomodar o espaço interior, se encorpam, quanto mais abaixo, à medida que as cargas se acumulam. Um exoesqueleto! Edifícios milenares, dos séculos XII, XXIII e XIV e muito, muito antes do HSBC, de Foster, em Xangai, e do Centro Georges Pompidou, em Paris, de Rogers e Piano. Com essa mensagem expresso a essência do meu, do nosso corpo de arquitetos/professores, entendimento de nossas profissões, arquitetos e designers: A arte de pensar as cidades, os edifícios, as paisagens, os objetos lúdicos, plásticos ou utilitários observando a correta leitura do meio sócio-econômico-cultural e recorrendo às técnicas mais convenientes, a cada momento, para dar resposta às necessidades físicas e espirituais do ser humano. Por isso, além da coerência histórica da Escola, Departamento, Escola, o respeito ético para com todos que por aqui passaram, resgatando a herança deixada e garantir a herança para os que hão de vir.

António Manuel Corado Pombo Fernandes
Aluno (1969/73 - 2ª turma), monitor (1972/73, docente (desde 1974), Diretor
(1979/81)



DEPOIMENTO


Ao ser surpreendida pelo convite para me pronunciar sobre a nova reestruturação acadêmica da PUC-GO, me detive a analisar e refletir sobre essa nova realidade.
Ao longo de sua história, o curso de arquitetura passou por muitos desafios; no
momento presente quando a educação, a ciência, a cultura, entre tantas outras
áreas vem sendo questionadas, transformadas e até mesmo duramente atingidas é preciso reafirmar nossa convicção num futuro melhor onde nossos jovens recebam uma formação profissional capaz de responder a essas novas realidades sem, contudo, perder seus princípios, valores e suas raízes. Que a nossa Escola de Arquitetura e Artes responda a este novo desafio com a mesma determinação, coragem e lucidez, sendo propositiva e com a necessária disposição para não só restaurar mas ampliar sua participação na Instituição e na sociedade goiana.

Ilza Vitório Rocha
Ex-Diretora do Departamento de Artes e Arquitetura da UCG.(1985/86)



DEPOIMENTO



Fui aluno da Faculdade Nacional de Arquitetura da Universidade do Brasil, hoje
UFRJ. Minha Faculdade teve origem na antiga Escola Nacional de Belas Artes e, sempre foi chamada pelos meus professores e, por nós alunos até os dias de hoje de Escola de Arquitetura. Os cursos de Arquitetura, em sua maioria tiveram origem nas Escolas de Belas Artes, daí o tratamento respeitoso e reverencial dos mestres artistas, criadores e formuladores dos Cursos. Em Goiânia desde 1989, conquistado pelo ambiente da Escola ainda instalado no velho edifício da Belas Artes, me tornei professor e depois, Diretor do Departamento. Muito me orgulhava de representar a minha Escola, na ABEA e no INEP-MEC, reconhecida por tantos pela qualidade do Curso e, por ser a única com nome e sobrenome - Edgar Albuquerque Graeff.

Dirceu Lima da Trindade
Arquiteto, ex-professor e ex-Diretor do Depto. de Artes e Arquitetura



DEPOIMENTO


Assumimos em dezembro de 2014, com muita honra e satisfação, a direção da
Escola de Artes e Arquitetura da PUC Goiás (EAA) que, naquele momento,
substituía o Departamento de Artes e Arquitetura (ARQ) surgido a partir da
reforma universitária da década de 1970. Podemos dizer que sempre tivemos a
convicção da continuidade de princípios da EAA e de sua história, iniciada com
a fundação da Escola Goiana de Belas Artes (EGBA) em 1952. Assim, neste
momento, para nós, a extinção da EAA é a morte da utopia iniciada por pioneiros como Frei Confaloni, Luiz Curado e Gustav Ritter, dentre outros fundadores da EGBA, que vislumbravam elevar culturalmente o planalto central por meio da produção artística contemporânea ao que se fazia no restante do mundo. Desde a época do ARQ acalentávamos o sonho de ofertar cursos na área de artes para resgatar a EGBA e contrapor a uma tendência hodierna do extremamente lógico, hiper técnico, exclusivamente científico e super-racional que impera em grande parte das universidades brasileiras. Entendemos a arte como o que de mais sublime o homem pode produzir, que o qualifica como ser espiritual, o permite superar sua condição meramente animal e dialogar com o eterno. Não faltam exemplos na história de como a riqueza das manifestações artísticas são entendidas como patrimônio de extremo valor e qualificam os povos que as produziram. Tivemos muita dificuldade de entender, mesmo respeitando todas os determinantes econômicos da atualidade que impõem à PUC Goiás medidas rígidas de contenção de gastos, como um campo tão fecundo da produção e conhecimento humano pode perder a possibilidade de florescer na instituição que se diz Universidade. Assim nos manifestamos quando soubemos da extinção da Escola de Artes e Arquitetura e daí o nosso luto.

Marcelo Granato de Araújo
Diretor da Escola de Artes e Arquitetura, PUC Goiás, de 2014 a 2021



De profissionais egressos da UCG/PUC:



DEPOIMENTO

Formei-me na primeira turma do Curso de Arquitetura e Urbanismo da então Universidade Católica de Goiás, aos 42 anos de idade, em 1972. Desde muito jovem gostava de desenhar e sempre alimentei o sonho de me tornar um profissional da área das construções e embora tenha me graduado em agrimensura minha meta era alcançar o título de arquiteto. Iniciei minha carreira como professor na então Escola Técnica Federal de Goiás onde ministrei, por muitos anos, as disciplinas de Agrimensura, Mineração e Estradas. Também atuei por quatro semestres como professor convidado no Curso de Arquitetura e Urbanismo da UCG na ocasião em que a Professora Mariza Soares Roriz exercia a direção da Escola. Antes de ingressar no Curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Goiás frequentei o ateliê do Frei Confaloni, que funcionava na atual área 4 da PUC, a quem devo grande admiração e respeito pela maneira como preparava as aulas para iniciantes nas artes ensinando com prazer e paciência as técnicas de representações artísticas as quais constituíam pré-requisitos ao ingresso no Curso de Arquitetura e Urbanismo. Na ocasião em que frequentei o curso, juntamente com outros colegas, muitos da mesma geração, pensei por diversas vezes, dado o peso do dia a dia, com família e filhos, empregos e outras dificuldades, na possibilidade de abandonar a faculdade. Entretanto o professor Confaloni dizia sempre que “os momentos de luta seriam passageiros e que o futuro nos esperava logo ali adiante” e se de alguma maneira posso ostentar o título de arquiteto seguramente posso garantir que o Frei foi o “culpado”.

Depois de formado, juntamente com os professores Laerte Araújo Pereira, Augusto Von Waldov e José Alves fundamos a construtora Módulos, porém nunca deixei a atividade docente de lado e me mantive, por longos anos, na função de consultor na Procuradoria Geral do Estado de Goiás. Tive a oportunidade de, juntamente com os arquitetos Suzy Suely Pereira Simon e Antonio Fernando Bañon Simon, vencer o concurso para o projeto de arquitetura e paisagismo para a construção do anexo de apoio da então Escola Técnica Federal - projeto publicado pela Pini Editora na Revista AU nº 97. Hoje, aos 93 anos, reconheço que o Curso de Arquitetura e Urbanismo contribuiu definitivamente para meu desenvolvimento como ser humano e em minha atividade profissional nas áreas de projeto e construção, como professor na Escola Técnica Federal de Goiás, como convidado no Curso de Arquitetura e Urbanismo da então UCG e consultor na Procuradoria geral do Estado.

Vicente Paulo Pereira
Arquiteto e egresso da UCG (1972 – 1ª turma) e ex-Professor da UCG



DEPOIMENTO


Depois de quase 50 anos de formada, em Arquitetura e Urbanismo pela
Universidade Católica de Goiás, hoje PUC e que as Artes e a Arquitetura das
Ideias, sempre sinalizaram minha vida profissional, me deparo com uma
inquietação no mínimo bizarra, fazendo com que me alinhe, a tantos parceiros,
numa reivindicação justa e necessária. Não é difícil para mim externalizar meu
sentimento de tristeza e espanto, chegando até a ouvir a voz e sentir o
entusiasmo dos professores, que àquela época e que todos sabem, não era fácil para os que se dispunham e se colocavam como porta voz de um novo discurso, onde a arte de ouvir, de falar e de se expressar nas suas diversas áreas, faziam coro junto às  leituras e teorias, que de uma forma ou de outra direcionavam um discurso audacioso, alinhado por princípios e sentimentos recheados de expectativas. Não esqueço nunca da integração e parceria entre as áreas do saber, colocada a nossa disposição e nem tão pouco do esforço dos professores e dos colegas. Hoje são reconhecidos, como profissionais que dignificam o nome da Escola de Artes e Arquitetura, sempre se colocando à disposição da sociedade, em qualquer área de sua atuação. Tudo isso, definiu a perspectiva de que o exercício do conhecimento, resultaria numa leitura coerente e equilibrada, onde a arte, a ciência e a técnica, ungissem uma prática profissional, que culminasse na arquitetura da cidade e da sociedade, como uma casa comum. Essa é a leitura que faço sem medo e sem culpa, porque nos meus quase 51 anos de vida profissional dedicada a esta cidade, como servidora pública, acredito ser esse o legado que a Escola de Artes e Arquitetura, deixou para mim. Portanto comungo com o conteúdo do abaixo assinado, na expectativa que a possibilidade da discussão culmine num pacto, onde prevaleça a importância da história da criação da Escola de Artes e Arquitetura, na propositura da reforma em discussão.

Marta Horta Figueiredo de Carvalho
Arquiteta e Urbanista egressa da UCG (1ª turma - 1972).



DEPOIMENTO

Entrei na Escola de Belas Artes em 1968.

Ana Maria Pacheco, Amaury Menezes, DJ Oliveira, Cléber Gouveia e o professor Jorge Félix de Sousa junto com Saída Cunha movimentavam o curso.

Em 1970 houve um curso de Fotografia ministrado pelo fotógrafo Décio Assis, cumprindo um compromisso de manter os ateliês de Arte, já que a Escola de Belas Artes teve seu final, dando lugar ao Departamento de Artes e Arquitetura com o curso de Arquitetura e Urbanismo.

Fiz o curso de Fotografia e, ao término, o professor Décio indicou três alunos
para darem prosseguimento ao mesmo: Amaury Menezes, Beatriz Rocha Lima e eu. Com o passar do tempo os dois tomaram outro rumo e eu dei continuidade ao Curso Livre de Fotografia do Departamento de Artes e Arquitetura.

Cumprindo o compromisso de manter os ateliês de Arte, foi criado o Centro de
Artes e Ofícios – CAOS, que ao longo dos anos promoveu inúmeras oficinas, entre  as quais: de desenho e de pintura, com Saída, Amaury e Tai Hsuan-an, de encadernação e diversos tipos de artesanato com Edith Lotufo.

Nos anos 1980 o CAOS abrigou o Grupo Via Láctea – dando espaço às Artes Cênicas – que teve destaque em Goiânia e região tendo feito apresentações em outros estados.

Sinto dizer que durante o início dos anos 2000 a Instituição começou a “torcer o
nariz”, provavelmente em função dos tentáculos do MEC, e da burocracia
acadêmica decorrente, que não tolerava essa espontaneidade, que era o que me encantava. Atendia as demandas por ilustrações fotográficas para a gráfica da UCG dirigida pelo sempre entusiasmado e perfeccionista Friedrich Kothen, figura ímpar, sem burocracias. Fotografava todos os eventos que ocorriam no nosso âmbito ou afins.

Certa vez, já nesses “novos” tempos, fui solicitada a acompanhar um professor
italiano em suas visitas a diversas cidades de Goiás, fotografando o que esse
professor queria: mostrar a iconografia da região. Logo esse material foi
editado e todas as ilustrações foram feitas com a seleção das imagens que
capturei. E o fiz gastando meu dinheiro com hospedagem e alimentação e depois, ao apresentar os comprovantes das despesas, pois assim havia sido combinado, apenas disseram-me, na administração, que não eram despesas previstas... e tchau!

Além disso ainda, uma rusga interna dentro do corpo docente patrocinada pela
administração Central e apoiada por 1/3 dos professores que deixou marcas
indeléveis na Escola com o impasse da não aceitação de um novo mandato para a Professora Marisa Soares Roriz, minha grande amiga e que faleceu barbaramente um tempo depois em consequência de um assalto.

Os processos mais espontâneos foram sendo abafados e a mágica herdada da Escola de Belas Artes da qual Siron Franco fala em seu depoimento – ele foi aluno “ouvinte”, na Escola –, na segunda metade dos anos 1960, estava sendo quebrada. Era esse elã que me encantava. O curso livre de Fotografia, já com 30 anos de vida, foi esmorecendo: onde já se viu uma Universidade ter um curso “livre”? Caramba!

Para esse novo tipo de Universidade isso era inadmissível. Em 2008 aceitei um
PDV, e saí, desiludida pelo que não se podia mais fazer, e era muito, e com
pouco.

Desculpem-me por este desabafo mas esse é o meu depoimento sobre a
Escola/Departamento/Escola! E que agora nem mais ARTE terá no nome da Escola!

Rosary Caldas Esteves Pereira
Egressa da última turma da Belas Artes e Professora do Departamento de
Artes e Arquitetura e Diretora do Curso Livre de Fotografia



DEPOIMENTO

Como integrante da turma de 1979 do Curso de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Católica de Goiás – UCG recebo com tristeza e espanto informações das alterações que pretendem implantar na estrutura desta mesma Universidade, impactando uma história de mais de 60 anos que envolveu artistas, arquitetos e personalidades de destaque nacional e internacional. Consigo entender a dinâmica do processo acadêmico e as novas demandas, mas preservar o conceito inicial da entidade é um dever de coerência. A ciência exata é importante, mas a visão holística e romântica do mundo não pode ser abandonada por causas pontuais, até porque arte e vida são realidades vibrantes e comunicativas permanentes.

Carrego em 42 anos de trabalho a base filosófica, técnica e artística que
aprendi nesta maravilhosa instituição. Acredito que eu esteja contribuindo com
o desenvolvimento da arquitetura e do urbanismo a nível local e regional de
forma responsável, aplicando todo o meu bom aprendizado em trabalhos de
planejamento urbano e regional, como também em aproximados 500 projetos de arquitetura que materializei nestas quatro décadas de trabalho. Dito isto, e de forma leve, sugiro aos atuais dirigentes da instituição que acolham as
manifestações e revejam a decisão tomada, mantendo a estrutura e denominação da Escola de Artes, Arquitetura e Tecnologia. A história registrará fielmente este momento de crise conjuntural e a decisão responsável e inteligente que foi tomada acertadamente, mantendo a denominação existente e a rica história de sucesso da instituição.

Enio Luiz Perin
Arquiteto e Urbanista, egresso da UCG (turma - 1979).



DEPOIMENTO


Arquitetura é o meu primeiro amor, a namorada que eu carrego e carregarei para o resto de minha vida. A UCG/PUC me ensinou a amá-la de forma mais intensa, com paixão. Arquitetura pode ser feita de tijolo, concreto, vidro, metal ou de qualquer outro material, no entanto ela é muito mais, ela é o condensador
social, ela é o prazer visual, o lar, o educador, o influenciador, aquela que te faz pensar, a arte na sua maior forma. A Escola de Artes e Arquitetura da PUC me ensinou também que Arquitetura tem o poder de construir nossos dias e noites. A PUC Goiás descreve o histórico da Escola de Belas Artes dessa instituição, onde, em 1968, pelo empenho de todos os seus professores, e a partir da estrutura da Escola de Belas Artes criou-se o Curso de Arquitetura e Urbanismo. Reconhecido nacionalmente com o trabalho de seu colegiado de
professores, e pelo histórico do professor Edgar Albuquerque Graeff. A mesma
PUC Goiás confirma o compromisso da instituição com a produção do saber
socialmente construído e historicamente preservado. Hoje estamos perplexos ao ver que a PUC Goiás não assume as próprias palavras e o comprometimento com o “saber socialmente construído e historicamente preservado” ao ver a proposta de enterrar a história da Escola /Departamento /Escola e de reorganizar os cursos de Arquitetura e Urbanismo e de Design na Escola Politécnica . Isso é um desrespeito para com todos aqueles que fizeram e fazem parte dessa história. 

José Ferreira de Athayde Neto
Arquiteto e Urbanista, egresso da UCG, (turma - 1997), Albany, NY, USA



DEPOIMENTO

Recebi com imensa tristeza a notícia de que a Reitoria da Pontifícia
Universidade Católica de Goiás pretende extinguir a Escola de Artes e
Arquitetura submetendo-a a uma Escola politécnica composta por várias
engenharias. Em 1995, ingressei no curso de arquitetura e urbanismo da então
Universidade Católica de Goiás. Eu havia feito o curso de engenharia civil na
Universidade Federal, entre 1988 e 1992, mas, logo em seu início, ao fazer a
disciplina de desenho arquitetônico, percebi uma afinidade com a arte e com a
criação que me indicavam fortemente o caminho da arquitetura. Como entrei na
engenharia muito novo, decidi que iria terminar o curso, para só depois iniciar
os estudos em arquitetura. Quando efetivamente comecei o curso de arquitetura, aconteceu uma grande transformação em minha vida. Eu vinha, como disse, de um curso, de estágios e de um trabalho promissor como engenheiro. Em 3 anos, havia construído dois edifícios e também trabalhado com projetos e perícias, na cidade de Goiânia. Mas havia uma Escola de Artes e Arquitetura em meu caminho.

E eu posso me lembrar do ambiente totalmente singular e diferente dela, em
todos os sentidos: humano, artístico, intelectual. Era um ambiente criativo e
permanentemente inspirador, como eu nunca havia experimentado antes. Desde que pisei ali, em meus primeiros dias como estudante, percebi que tudo, no âmbito da construção, poderia (e deveria) ser visto de um modo diferente; com valores, meios e finalidades raramente contemplados nas escolas politécnicas de engenharia. Mantendo os seus conhecimentos, precisei desconstruir a engenharia que existia dentro de mim para perceber (e receber) toda a riqueza que havia naquela Escola de Artes e Arquitetura. E percebi também, tempo depois, sendo professor, arquiteto e engenheiro, que estas duas áreas precisam se complementar, mas jamais se (con)fundir. Em síntese, o ambiente de uma politécnica, que conheci como estudante e engenheiro, direciona o conhecimento rumo a um sentido de inovação e precisão matemática em termos de um aprimoramento técnico-científico constante. O ambiente de uma escola de artes e arquitetura estimula um estado de constante criação, em que o interesse principal é a destinação humana da construção. A simultaneidade espaço-temporal de ambas escolas pode amainar ou retirar o que ambas fazem de melhor. Em nossa Escola de Artes e Arquitetura, nas aulas de ateliê, pairava uma atmosfera instigadora de experimentação, de desenho, de arte e de pesquisa. Havia professores artistas, pintores, escultores, fotógrafos, psicólogos, e arquitetos. Nas aulas de teoria e de história, valorizava-se o papel social e político do arquiteto, a dimensão humana que deveria dominar em nossa formação, e que deveria orientar também a técnica e a construção. A arquitetura e as cidades que construímos precisa resguardar sobretudo essa dimensão humana, como lembrava bem o professor Edgar Graeff, e que orgulhosamente dá seu nome à nossa Escola; sob o risco de vermos prevalecer as finalidades tecnicistas e comerciais que predominam em nossa civilização contemporânea. Nossas cidades precisam ser mais empáticas, mais inclusivas, mais justas e mais democráticas, mais belas, mais humanas e melhor integradas à natureza. Bem vindo ao que se
discute, essencialmente, em uma Escola de Artes e Arquitetura! Posso ainda
sentir a sensação de entusiasmo que era chegar e conviver com todos ali na
Escola, durante os anos em que estudei ali; ou mesmo trabalhei, como professor, em 2000 e 2003. Os meus professores falavam sempre de sua origem na Escola de Belas Artes, de todos os fundamentos implícitos e explícitos dessa história, e sei, pela amizade e pelo convívio que guardo com muitos que ainda são professores ali, o quanto aquele encanto que embalava a todos, ainda no final do século XX, era a memória viva da Escola de Belas Artes preservada ativamente por professores e alunos. Hoje, depois de 21 anos de formado, como engenheiro, arquiteto e professor de arquitetura, sei o quanto ter feito o curso naquela Escola foi definidor de todos os rumos que tomaram a minha vida profissional; e também do quanto a minha vida pessoal se tornou também, por tudo isso, mais alegre, mais humana e mais sensível. Apesar de todas as circunstâncias que atingem a gestão da PUC-Goiás, espero que se possa manter o reconhecimento e a denominação de nossa Escola de Artes e Arquitetura Professor Edgar de Albuquerque Graeff

Rodrigo Bastos
Arquiteto, egresso da UCG (turma - 1999) e com graduação anterior em
Engenharia Civil , professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal de Santa Catarina
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